segunda-feira, 22 de abril de 2013

As cruzadas


No capítulo anterior, em São João D' Acre, na prisão, numa cela, Isabela começa a conversar chorando com Maria e com o seu pai, Felipe.
Isabela: Gente, agora que nós estamos nessa prisão, sem chance alguma de liberdade e com a certeza de que iremos morrer, eu estou pensando em cumprir esse meu destino mais rápido, que é o de morrer. Eu estou pensando em não esperar me matarem na rua para todo mundo ver, e sim, em eu mesma me matar.
Maria: A senhora está brincando, não é?
Isabela: Não, eu não estou brincando! Eu estou pensando seriamente em fazer isso!
Felipe: Isabela, minha filha, eu sei que eu não concordo e nem apoio uma muçulmana se relacionar com um católico, porque eles são nossos inimigos, mas para impedir a senhora de fazer uma loucura dessa, por favor, pense muito no seu amor, o Rodrigo, a senhora vai desistir dele assim facilmente? Nós temos que lutar pelo o que nós amamos!
Isabela: Mas, eu já estou cansada desse sofrimento!

Amanhece em São João D' Acre. Em sua casa, na sala, Regina conversa com Bartolomeu.
Regina: Bartolomeu, eu te chamei aqui cedo, porque eu quero que o senhor faça um favor para mim. Eu quero que o senhor roube o dinheiro das doações da igreja que estão num cofre.
Bartolomeu: Como eu vou saber onde fica o cofre da igreja?
Regina: O ''burro'' do padre Ricardo cego de amor por mim, me mostrou onde fica, porque eu sou uma pessoa da total confiança dele!
Regina e Bartolomeu dão risadas.
Regina: Eu te explicarei como o senhor chegará ao cofre direitinho, eu memorizei o caminho perfeitamente quando o padre Ricardo me levou lá, porque eu memorizo tudo que me interessa! E te explicarei também, como chegar lá escondido dos guardas e dos padres, sem levantar suspeitas. E esse período da manhã, agora cedinho, ajuda ainda mais, porque os guardas demoram chegar à igreja para trabalharem e os padres demoram acordar para também trabalharem, como se eles não tivesse bastante trabalho, principalmente com a realidade dos pobres, que eles fingem que nem existem. Eu quero que o senhor roube todo o dinheiro       que estiver no cofre, esse mesmo dinheiro que os pobres não veem a igreja utilizando para melhorar a vida deles! Bartolomeu, roube tudo, roube todo o dinheiro do cofre da igreja, o dinheiro daqueles padres!
Agora, preste atenção, que eu vou te explicar como chegar ao cofre da igreja e como é que o abre, e como fazer isso tudo sem levantar suspeitas...

Do lado de fora da prisão, onde estão presos Isabela, Maria e Felipe, Ana e Rodrigo gritam pela a soltura deles.
Ana: Covardes, libertem-os, eles não fizeram mal a ninguém, eu pago o que os senhores quiserem para os libertarem!
Rodrigo: Isso mesmo, guardas, avisem os padres e o bispo, que nós pagamos o que os senhores quiserem para libertarem esses muçulmanos.
Com a gritaria deles, as pessoas começam a se aglomerar na rua que fica a prisão. Todos ficam surpresos, com Ana e Rodrigo, que são católicos, pedindo para que muçulmanos sejam soltos.
Olívia que também está no local, observando a gritaria de Ana e Rodrigo, começa a falar com a Ana.
Olívia: Ana, a senhora que sempre se achou a mulher mais digna e respeitada dessa cidade, agora fica pedindo para soltarem muçulmanos da prisão?!
Ana: É melhor a senhora ficar calada, porque a senhora já me traiu com o meu marido que já morreu, mas se ele tivesse vivo eu bateria nele e na senhora também, pensando bem, eu posso bater na senhora agora para descontar toda a raiva que eu sinto da senhora, sua desgraçada!
As pessoas que estão no local, começam vaiar a Olívia, chamando-a de traidora.
Ana: Isso, vaiem essa desgraçada, ela merece isso mesmo!
Olívia: Por que os senhores estão me vaiando? E se fosse verdade, se eu tivesse traído ela com o falecido marido dela, o que seria pior? O que seria pior? Uma traição ou um católico proteger muçulmanos, igual ao que ela e o irmão dela estão fazendo?
Ana: Eu vou bater nessa mulherzinha, gente!
Neste momento, padre Roberto chega ao local para interromper a discussão.
Padre Roberto: Mas, o que está acontecendo aqui?
Ana: Essa mulher, que me traiu com o falecido do meu marido, estava me insultando antes do senhor chegar.
Padre Roberto: Que traiu a senhora com o falecido do seu marido? Como assim?
Ana: Ela se relacionou com o Paulo, quando ele estava casado comigo, padre.
Padre Roberto: Essa acusação sobre a senhora Olívia me impressiona, mas deixarei para investigar depois. Agora, eu quero saber por que a senhora e o senhor Rodrigo estavam gritando aqui na frente da prisão?
Olívia: Eles estão querendo que uns muçulmanos, que eu nem sei quem são, sejam soltos. Eu acho um absurdo católicos pedirem a soltura de muçulmanos da prisão!
Ana: Fecha a sua boca, a senhora não é digna de falar nada!
Padre Roberto: É verdade que os senhores estão pedindo a soltura de alguns muçulmanos?
Rodrigo: Estamos padre, porque eles foram presos pelo padre Ricardo, que os achou na nossa casa. O padre achou que eles na nossa casa, era uma ameaça para nós. Mas, não é isso que nós entendemos nos dias que eles estiveram lá em casa. Nós ajudamos esses muçulmanos, porque... Tá bom, eu não vou mentir mais, eu irei falar a verdade! Esses muçulmanos são a família da muçulmana que eu estou me relacionando, que é a mulher que eu amo, que é a Isabela! Eles não estão aqui para fazer algum mal para nós católicos, podem ficar despreocupados! Eles estão aqui só por causa do meu relacionamento com a Isabela.
As pessoas que estão presenciando isso no local, começam a vaia-lo, chamando-o de católico traidor.
Padre Roberto: Por favor, todos em silêncio!
As pessoas silenciam.
Padre Roberto: Se for por causa desse motivo, eu não soltarei esses pagãos! Aliás, qualquer que fosse o motivo, eu não os soltaria, os muçulmanos são nossos inimigos! E mais grave ainda, é saber que um católico filho do homem mais poderoso que essa cidade já teve, se relacionando com uma muçulmana, traindo nós católicos e o falecido José, seu pai! E me admira também, a senhora Ana o apoiando neste ato de traição contra a igreja católica! É melhor senhor Rodrigo e senhora Ana, os senhores voltarem para casa e refletirem um pouco sobre essa traição que os senhores cometeram agora, porque eu não soltarei esses muçulmanos da prisão!
Ana: Por que o senhor não mandou eu e o meu irmão cumprir alguma penitência, já que nós cometemos uma falha muito grave?
Rodrigo: Ana, por favor, não comece!
Ana: Desculpa, eu esqueci que nós somos ricos, e que aqui, é a cidade da injustiça! Quando um pobre comete alguma falha grave contra a igreja, ele não tem nem direito a penitência para se redimir, a penitência para os pobres é a morte de uma vez! Agora, para os ricos, como nós, irmão, podemos cometer uma falha até mais grave do que um pobre, mas a nossa penitência é só uma reflexão sobre os nossos atos! Eu quero uma penitência igual a todo mundo!
Os pobres que estão no local parabenizam e ovacionam à Ana.
Padre Roberto: Tudo bem, a senhora terá que duplicar o valor das doações que a senhora doa para a igreja!
Ana: Porque ao invés de dar lucro para os padres, eu doasse para os pobres o que eu teria de doar à igreja?
Os pobres a ovacionam e parabenizam novamente.
Padre Roberto: Faça como a senhora quiser! Para o senhor Rodrigo, a penitência que ele terá que cumprir, será de ir novamente à Jerusalém, para a guerra de católicos contra os muçulmanos para pagar os seus pecados, porque os católicos estão precisando de reforço lá, pois os muçulmanos já estão avançando rapidamente para cá, para a tomada da nossa cidade, e nós não permitiremos isso de jeito nenhum! Agora, todos que estão aqui, podem voltar para suas casas, a confusão já acabou! E quem continuar a causar confusão será preso!

Em casa, na sala, Rodrigo comenta com à Ana.
Rodrigo: E agora, Ana, como é que eu vou salvar à Isabela dessa situação?

Termina mais um capítulo de As cruzadas. Amanhã, mais um capítulo às 17:15.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.